desafios e perspectivas pensados a partir da realidade de Unidades Escolares da rede pública de ensino do Estado de São Paulo.
Antônio Pereira dos Santos
Doutorando em Psicologia
Academia Paulista de Psicanálise - ACADPSI
"Os processos tecnológicos e as alterações sociais modernas não causaram impactos apenas nas relações interpessoais, mas também nas pessoas em si ".
Introdução
Historicamente, as escolas são espaços de desenvolvimento, não apenas acadêmico, mas também social, emocional, psicológico e físico, e devem ser interpretadas como o espaço de convívio social, onde a troca, intencional e/ou espontânea, é constante. Para que a trajetória escolar do aluno, na faixa etária de 16 anos, seja saudável e propícia ao seu desenvolvimento é preciso que haja um clima organizacional emocionalmente saudável. Assim, corpo discente, corpo docente, coordenadores, vice-diretores e diretores das unidades escolares poderão interagir de forma produtiva. Tal interação propiciará elaboração de conhecimento de forma relevante, significativa e contínua aos aprendizes.
Se ao contrário, a escola pode-se tornar num espaço emocionalmente doentio frente aos conflitos da competitividade, bullying, preconceito e a discriminação, que, muitas vezes, ocorrem em ambientes escolares e são estendidos para as redes sociais, fazendo com que essas práticas sejam ainda mais disseminadas e acessadas por muito mais pessoas do que seria possível de forma presencial. Esses fatores unidos contribuem para que o ambiente escolar não possa ser, na maioria das vezes, considerado emocionalmente saudável. Tal realidade afeta não apenas os alunos, como também todos os profissionais que atuam em unidades escolares, de modo que o clima organizacional seja prejudicado por consequência.
Em idade de desenvolvimento, desde o início da sua primeira infância até os anos finais da adolescência, os indivíduos são obrigados, pelo viés da Constituição Federal vigente em território nacional, a frequentarem instituições de ensino podendo ser de natureza pública ou privada. É exatamente por esse motivo que a escola tem um papel fundamental na formação desses jovens, visto que é nesse espaço que há uma forte socialização e a formulação de ideologias, opiniões e escolhas.
Possíveis causas da desmotivação discente:
Os processos tecnológicos e as alterações sociais modernas não causaram impactos apenas nas relações interpessoais, mas também nas pessoas em si. O estilo de vida acelerado, o imediatismo, a busca por perfeição, a cobrança por metas e a ausência de diálogo são características da nova sociedade.
Segundo Silva et. al (2014), a desmotivação dos alunos dentro do ambiente escolar pode derivar de vários fatores de natureza pessoal, biológica ou propriamente acadêmica. Alunos que enfrentam dificuldades e problemas familiares fora das dependências escolares, tendem a agirem de forma apática nos demais ambientes em que se encontram.
No que diz respeito aos fatores biológicos, aqueles alunos que possuem alguma dificuldade de aprendizagem ou sofrem de algum transtorno não costumam se sentir acolhidos e equiparados com os demais colegas de turma. Esse sentimento faz com que os mesmos não manifestem motivação para executar as tarefas naturais do ambiente escolar.
Os fatores de natureza acadêmica são aqueles que têm relação direta com o ambiente escolar e as metodologias de ensino utilizadas pela escola, em si. O ambiente escolar, apesar de ser destinado ao aprendizado, pode se tornar extremamente tóxico para determinados tipos de alunos. A exclusão social, o bullying, excesso de cobrança por parte do corpo docente, pais ou responsáveis legais, adaptação conturbada ou tardia e diversos outros fatores podem influenciar na motivação do aluno (Silva et. al., 2014).
Os alunos, assim como todos os indivíduos que estão presentes na sociedade, apresentam diferenças pontuais entre si. Em relação ao aprendizado, nem todos os alunos conseguem efetivá-lo através do mesmo método de ensino. Existem aqueles que aprendem por meio de explicações, escrita, mapas mentais ou apenas lendo e repetindo os conceitos, o importante é que as metodologias de ensino presentes no dia a dia escolar sejam alcançáveis a todos esses tipos de absorção de conhecimento.
Para Freitas (2009) existe uma pressão muito grande no ambiente escolar. O autor justifica esse pensamento alegando que o desempenho escolar está altamente ligado à ascensão social. Essa relação resulta em uma condição de aceitação, ou seja, esse aluno sente que só será aceito socialmente, se tiver um desempenho escolar excelente. As metodologias de gamificação, por exemplo, – recompensas por desempenho – podem, se não bem elaboradas, enfatizar esse ponto negativo: cria-se uma sensação de insuficiência e incapacidade muito grande aos demais alunos.
A fase que compreende a adolescência costuma ser extremamente conflituosa, isso porque o indivíduo nessa faixa etária possui uma série de questionamentos e certezas pré-fundamentadas, na sua maioria voltadas ao princípio do prazer, que podem ou não serem baseadas na realidade. A comunicação é uma das práticas mais difíceis nesse período, é muito comum que os pais ou responsáveis, bem como quase todos os demais adultos, não consigam manter um diálogo saudável com esses jovens. Tal realidade pode ter graves consequências (Eisenstein, 2005).
As doenças de natureza psicológica são consideradas um problema de saúde pública, isso porque elas seguem atingindo milhões de pessoas pelo mundo, todos os dias. Para Santrock (2014), os adolescentes são mais suscetíveis a desenvolverem transtornos psicológicos ou doenças como a depressão, pois, frente aos princípios da realidade, vivem em um estado de luto constante, luto pela sua infância, pelas suas antigas vivências, pela forma como eram tratados anteriormente e pela ludicidade – natural da infância – que ainda significam em seus pensamentos. Assim, sentem-se inibidos em acessá-los e ao mesmo tempo deslocados para o mundo do adulto que os interpelam a produzir novos sentidos, porém ainda desconhecidos.
Por tais fatos, é extremamente comum e compreensível que esses adolescentes tendem a se isolar e a procurar se relacionar apenas com aqueles que se encontram na mesma angústia, porém, essa prática é comprometedora de modo negativo para ambas as partes envolvidas, tanto para os jovens em si, quanto para os seus pais, responsáveis ou orientadores (Santrock, 2014).
Em um contexto atual, esse apoio e auxílio por parte dos pais ou responsáveis legais é, muitas vezes, negligenciado pelo próprio estilo de vida moderno que exige que todos os adultos da família estejam inseridos no mercado de trabalho, com objetivo de garantir o sustento, a evolução social e financeira dos mesmos. Logo, esse jovem e sua saúde mental podem ficar em segundo plano, aliado à ausência de diálogo, viabilizando assim, o desenvolvimento de sofrimentos psíquicos e emocionais (Costa, 2017).
É ainda nas etapas inicias da vida – infância e juventude – que a diversidade social e a pluralidade de pessoas costuma ser notada. Ou seja, é ainda nessas fases iniciais que as pessoas tomam consciência da infinita quantidade de pessoas diferentes que existem em relação à identidade, gostos, religiões, opiniões, escolhas e outros. Porém, sem um acompanhamento de um adulto com maturidade, cuidado e afetividade, é comum que não haja a compreensão correta da realidade e das noções do sentido de “respeito” e da existência do “outro” nas interações não se desenvolvam, até que fiquem claros e bem entendidos (Barbosa, 2007).
Possíveis causas da desmotivação docente:
Silva et. al (2014) nos chama atenção para o fato de que profissionais desmotivados também geram alunos desmotivados. Ao observar o contexto escolar, a partir dessa perspectiva, nos deparamos com um problema estrutural ainda mais profundo. A constante desvalorização da educação como agente transformador da sociedade e do professor como a base de todas as demais profissões resulta em docentes descrentes e, muitas vezes, cansados do ponto de vista físico e até mesmo ideológico.
Segundo Deusdará (2013) as novas responsabilidades da escola estão diretamente relacionadas aos educadores que lecionam nas salas de aula brasileiras, os professores precisam lidar com as singularidades dos alunos, suas limitações, comportamentos e vivências diferenciadas, sempre em busca de mediar as situações e ensinar os alunos a serem cidadãos descentes, conscientes e socialmente integrados.
Desta forma, propiciar a este agente, o professor, um clima organizacional saudável, poderá ser um recurso facilitador, entre outros, para a promoção de práticas educacionais cada vez mais qualificadas.
Segundo Moreira (2012, p. 25) o clima organizacional tem uma grande importância e influência na produtividade da equipe. Caso tenha energia negativa, tem potencial para prejudicar a saúde do ambiente de trabalho, fazendo com que os indivíduos que nele estejam inseridos passem a sofrer de estresse ocupacional, ansiedade e até mesmo depressão. Logo, a função direta dos superiores e gestores das unidades educacionais é garantir que o clima organizacional esteja minimamente saudável, a fim de obter relevantes resultados de cunho educacional.
Evidentemente, ao tratar de estresse ocupacional, as variáveis são infinitas, partindo de remuneração, reconhecimento, condições de trabalho, interação no ambiente de trabalho e outros. Portanto, diversas medidas podem ser tomadas para prevenir que essa situação não ocorra ou até mesmo possam diminuir os efeitos de um clima organizacional inadequado em que o professor não se sinta, respeitado, aceito e valorizado, pois a motivação e o engajamento dos funcionários deve ser prioridade do setor que cuida da gestão de pessoas.
A engrenagem primordial: o professor
Para Lucyk (2017), a figura do professor é milenar na sociedade humana, seja ela de qual região for, pois desde que os humanos passaram a viver em grupos, foi necessário que alguém ocupasse o lugar de ensino, ou seja, assumisse a responsabilidade de ensinar aqueles que eram mais novos ou não necessitavam dos conhecimentos necessários para executar determinadas funções.
Porém, em um contexto inicial o professor, assim como o ambiente escolar, tinha como objetivo passar conhecimentos acadêmicos e zelar pela segurança física dos alunos, que frequentavam o ambiente escolar. Atualmente, esse objetivo foi alterado de modo que pudesse ser muito mais abrangente, conforme a evolução da sociedade. A ausência dos pais no ambiente familiar, fez com que as responsabilidades da escola aumentassem, e, de forma moral, os professores passassem a ensinar além dos conteúdos acadêmicos para seus alunos, trabalhassem também conhecimentos relacionados à moral, à ética, e à construção de novos indivíduos socialmente adequados (Lucyk, 2017).
Clima organizacional
Segundo Guimarães et. al (2004, p. 27) o clima organizacional pode ser definido pela opinião conjunta de todos os elementos que compõem o quadro de funcionários daquela empresa ou órgão público. Ou seja, a formação desse clima organizacional depende de todos os fatores que o compõem, como a hierarquia, as condições de trabalho, a estrutura física do local, a interação entre os funcionários, o sistema de bonificação adotado – ou a falta dele – a flexibilidade de horários e de regras, dentre outros.
Como bem coloca Moreira (2012, p. 25) o clima organizacional tem uma grande importância e influência na produtividade da equipe. Ao contrário, tem potencial para prejudicar a saúde do ambiente de trabalho, fazendo com que os indivíduos que nele estejam inseridos passem a sofrer de estresse ocupacional, ansiedade e até mesmo depressão. Logo, é função direta dos superiores e gestores das empresas ou órgãos públicos, garantirem que o clima organizacional esteja positivo, sendo que, as noções de gestão de pessoas são fundamentais para cumprir essa difícil tarefa.
Havendo descaso por parte dos ocupantes de cargos elevados hierarquicamente com a qualidade do ambiente de trabalho onde os demais funcionários se encontram, é natural que cresça a sensação de desmotivação e insatisfação em relação à empresa ou órgão público em que trabalha. Cabe aos gestores a busca por técnicas e metodologias que contribuam para o bem-estar profissional desse funcionário, de modo que ele volte a se sentir motivado e crente aos objetivos da empresa (Bortolozo, 2011, p. 11).
É de suma importância que os aspectos que correspondem aos fatores psicológicos desses funcionários sejam levados em conta. Além de melhorias necessárias ao ambiente físico, que possam ser identificadas e sanadas, os aspectos que comprometem a saúde mental desses trabalhadores devem ser igualmente avaliados.
Para que os objetivos dos setores públicos sejam cumpridos é importante que os mesmos elaborem projetos de ação que idealizem e viabilizem a conclusão dos objetivos naturais de cada órgão público. Esse gerenciamento de projetos deve ser cuidadosamente pensado, bem como as funções de cada elemento devem ser bem claras em qualquer tipo de empreendimento, mais ainda quando essas ações possuem potencial para definir o andamento de um país e o bem-estar de toda uma população.
Dessa forma, a função da gestão de projetos dentro de uma empresa ou setor púbico é a de garantir que todas as etapas do projeto sejam cumpridas da maneira mais adequada possível, desde a identificação da necessidade, até as análises da eficácia do mesmo (Menezes, 2005, p. 36). Sendo assim, para que a gestão de projetos possa ser aplicada no ambiente empresarial ou público, é preciso que os agentes que nele atuam estejam abertos para executar as ações necessárias para que aquele projeto seja viabilizado. Logo, é interessante que os funcionários estejam sempre motivados e mantenham uma boa comunicação entre si.
A comunicação também é um dos pilares do clima organizacional, já que a existência ou não da mesma é totalmente influenciada pela forma como os funcionários e colaboradores se sentem dentro de seu ambiente de trabalho.
Segundo Feitosa (2012, p. 33) a interrupção nos projetos dos gestores, aliada à falta de certeza da conclusão dos mesmos, contribuí para a insatisfação dos funcionários, fazendo com que os mesmos se sintam inseguros, desmotivados e desvalorizados, enquanto profissionais que atuam para o bem da comunidade e para o progresso nacional.
Como é possível compreender, sobre as escolas de ensino público do Estado de São Paulo, recaem o tradicional problema de empresas públicas em transições de governo ou em trocas de cargos de confiança. As metodologias adotadas dentro de uma unidade escolar, bem como os projetos idealizados e iniciados nesse espaço, precisam ter a segurança de apoio e continuidade até a sua conclusão – caso estejam sendo comprovadamente positivos para os alunos, profissionais da educação e para comunidade de forma geral – de modo que sejam bem executados e tragam bons frutos para a unidade escolar.
Fisher (2010) estudou o tema da “felicidade organizacional” e caracterizou da seguinte forma uma empresa feliz:
•Apresentam culturas onde predomina o apoio e o respeito;
•Proporcionam lideranças competentes, segurança no trabalho e reconhecimento;
•Desenham o trabalho de forma a que este seja interessante e motivador;
•Facilitam a aquisição e o desenvolvimento de competências;
•Selecionam as pessoas de acordo com a sua adequação ao trabalho e à organização;
•Trabalham essa adequação através de práticas de indução e socialização;
•Reduzem os pequenos incômodos diários e procuram aumentar os fatores de satisfação;
•Adotam práticas de gestão de alto desempenho.
Num mundo instável, a felicidade tem vindo a distinguir-se cada vez mais como um objetivo principal na vida dos colaboradores e também na existência das organizações. Nos dias de hoje, para que as organizações alcancem excelentes resultados, é necessário presentear com algo mais que possa ir além de uma remuneração atraente, a fim de deixar os colaboradores comprometidos. É fulcral investir em atividades que visem a melhoria da qualidade de vida dos colaboradores e atitudes que procurem o progresso do ambiente de trabalho (Bendassolli, 2007).
Cabe aos gestores a busca por técnicas e metodologias que contribuam para o bem-estar profissional desse funcionário, de modo que ele volte a se sentir motivado e acredite nos objetivos da empresa (Antunes, 2000).
Para além dos motivos já supracitados, como bem coloca Sousa (2008) um dos maiores fatores de insatisfação no ambiente escolar para os educadores, gestores e diretores está associado ao fato de que as famílias, nem sempre, participam ativamente da vida escolar de seus filhos e se prontificam a auxiliar os mesmos no seu desenvolvimento acadêmico e pessoal, tornando o processo de ensino ainda mais complicado.
Caminhando para a extensão dessa análise, é preciso que a escola e os pais realizem um trabalho conjunto na formação desse novo indivíduo, ou seja, assim como a escola passa os conhecimentos culturais relacionados à moral, ética e formação de caráter, também cabe aos pais promover o desenvolvimento físico, acadêmico e cognitivo de seus filhos, quando os mesmos estão fora da escola (Marcondes, 2012).
Sendo assim, faz-se necessário que os pais contribuam muito mais do que apenas na orientação seus filhos a realizar atividades enviadas para serem feitas em casa, mas também que os mesmos sejam participativos e estejam antenados em tudo que acontece no ambiente escolar frequentado pelos seus filhos. Marcondes (2012) afirma que “os professores possuem dezenas de alunos, que precisam de cuidados e atenção, os pais possuem apenas seus próprios filhos”. Ou seja, torna-se mais fácil que os pais, através da análise, verificação e conversas constantes com seus filhos, descubram se algo no ambiente escolar não está ocorrendo da maneira como deveria e como isso está impactando no desenvolvimento e no desempenho escolar dos mesmos.
O diálogo e o interesse podem ser colocados como a chave de uma participação ativa dos pais na educação escolar de seus filhos (Chechia, 2002). Essa participação pode e deve ocorrer através da realização de visitas regulares ao espaço escolar, conversas com o corpo docente e a gestão da escola sobre as necessidades e comportamentos apresentados pelos filhos, comparecimento em reuniões de sala ou individuais, auxílio em atividades extracurriculares e deveres de casa, dentro outras ações.
O importante papel do gestor da unidade escolar:
Segundo Soares (2016) é através da racionalidade e da inteligência de crises que o gestor escolar deve alterar as práticas pedagógicas adotadas em sala de aula, que por algum motivo não estejam dando resultados satisfatórios. Dessa forma, é preciso que o mesmo faça uma análise profunda da realidade daquele ambiente escolar levando em conta todos os aspectos como: estrutura física, atividades extracurriculares, metodologia de ensino, postura dos professores, singularidades físicas e acadêmicas dos alunos, presença da família nos momentos solicitados pela escola e outros fatores que possam influenciar nos resultados apresentados pelos alunos.
Enquanto isso, Vasconcelos (2002) coloca o gestor escolar como o profissional que paira entre a sala dos professores e as salas de aula. Isso é, o gestor escolar tem funções de natureza administrativa e também pedagógicas, sendo ele a ponte entre as duas áreas de uma escola na busca de encontrar a harmonia entre as mesmas, a fim de promover o bom desenvolvimento escolar de maneira geral. Cabe a ele implementar o ideal de que a escola é o espaço de formação de novos seres, de modo que incentive o debate saudável e o senso crítico desses alunos. Esse plano de ensino deve começar, desde a parte da gestão e ser refletido dentro das salas de aula.
Além disso, deve-se observar que será necessário que esse profissional saiba dialogar com os profissionais de gestão, familiares, professores e alunos. Esses grupos de pessoas apresentam diferentes idades, vivências, ideologias e pensamentos. Portanto, torna-se necessária grande habilidade de comunicação e flexibilidade para dialogar nesse espaço e nesse contexto.
Muitos anos se passaram até que a função do gestor escolar fosse desassociada da função de vigiar e reprimir as ações dos professores em sala de aula. Atualmente, essa ideia já foi refutada e o gestor escolar deve ser visto como um mediador entre as atividades pedagógicas realizadas em sala de aula e o auxílio nas possíveis dificuldades enfrentadas pelos professores.
Faz-se necessário, então, que o gestor educacional, organize e sintetize, de forma democrática, estatutos que nortearão os valores e objetivos institucionais da unidade escolar que se traduzam em missão institucionalizada daquele corpo docente, objetivando a premissa do respeito e da convivência pacífica entre todos os envolvidos, cultivando um clima de trabalho colaborativo.
Considerações finais
Pode-se concluir que é necessário que haja a formulação de projetos de intervenção para análise e, se necessário, correção do clima organizacional que visem melhorar essa realidade e tornar o clima organizacional de unidades escolares mais saudável e propício ao desenvolvimento pessoal e profissional de todas as partes envolvidas.
Ao falarmos de clima organizacional em uma unidade escolar, evidentemente precisamos levar em consideração que, para além das questões que envolvem as rivalidades entre os profissionais que atuam no mesmo espaço, também deve-se levar em consideração o estresse laboral gerado na interação da equipe de professores, famílias, funcionários e gestores com as crianças e adolescentes que, devido aos estágios de desenvolvimento, irão testar e forçar limites.
Desta forma, para a adequação do clima organizacional, torna-se necessário ter como base a formulação ou reformulação de estatutos que garantam aos professores, funcionários e gestores, respostas claras e padronizadas nas mais variadas situações.
Uma vez previstas as ações transgressoras e partilhadas com a equipe, ações corretivas eficazes, permitirão que o professor, funcionário e gestores não se sintam desprotegidos frente às dificuldades cotidianas, pois tais medidas, geram um respaldo que se traduz em uma sensação de segurança à equipe e demais alunos presentes. Sendo este o primeiro passo para a estabilização do clima organizacional em uma unidade escolar, a criação e uniformização de condutas-resposta as diversas situações de conflito presentes no cotidiano escolar. Para tanto, projetos interdisciplinares sobre as temáticas de combate ao bullying, combate ao desrespeito, ao racismo, a violência verbal, entre outros precisam integrar os currículos anuais de forma intencional.
Desse modo, o próximo passo será a estabilização do clima organizacional entre os profissionais, para que a sala dos professores e as reuniões pedagógicas sejam percebidas como ambientes/situações seguros, respeitosos, prazerosos, democráticos e produtivos. Para que isso ocorra, faz-se necessário entrar em cena, munido de conduta assertiva, o mediador de conflitos, pois clima organizacional emocionalmente saudável não é aquele isento de conflitos, porque talvez não exista tal imaginário, mas sim uma instituição capaz de gerir, de forma assertiva, os conflitos inerentes e inesperados, dando respostas satisfatórias às demandas cotidianas.
Esse modo urgente de gestão deve ser, intencionalmente e profissionalmente, exercido pelos gestores educacionais. Assim, perceber-se-á dentre a equipe de professores, que alguns exercerão tal papel de maneira automática, solidária e voluntária, e isto precisa ser valorizado e estimulado. Portanto, os gestores educacionais devem, inicialmente, qualificar esta forma de atuação, buscando informações, formações e ferramentas com a intenção de fomentar um modus operandi na equipe menos reativo e, intencionalmente, pautado na compreensão, cooperação e auxílio mútuo.
Como visto, a proposta consiste na participação ativa de coordenadores, diretores e vice-diretores escolares, visto que, na posição de gestores das unidades escolares, são munidos da autoridade hierárquica necessária para a implementação de alterações no cotidiano escolar de cunho local.
Portanto, estes agentes de mudança, uma vez que assumem as responsabilidades destes processos de norteamento e mediação para coleta de dados, aferição de resultados, planejamento estratégico para ações de correção de clima organizacional e manutenção do mesmo, assumem um dos papéis de crucial importância para o sucesso destas ações: a liderança do processo de mudança.
Partindo da premissa de que o posto de liderança deste processo foi assumido por um gestor educacional, que possui a autoridade necessária para a promoção de mudanças, o próximo passo será diagnosticar os pontos de melhoria a serem tratados pela equipe através da aplicação de uma pesquisa de clima organizacional. Este diagnóstico poderá ser feito através de um questionário que possui o objetivo a analisar a satisfação, felicidade e motivação no ambiente de trabalho para a equipe de educadores.
Após o processo de coleta dos dados, a liderança deste processo deve fazer a tabulação dos dados recolhidos, organizar e analisar os resultados obtidos, a fim de identificar os pontos mais críticos da unidade escolar no que tange à qualidade de vida dos prestadores de serviço e à saúde do clima organizacional desta unidade.
Acredita-se que, tal como um organismo vivo, as soluções podem surgir de dentro da própria comunidade educativa, de forma que com o engajamento dos diversos atores e as motivações necessárias, a solução poderá ser construída e implementada pela própria equipe docente, mediados pela figura do gestor educacional.
Para isso, o projeto de intervenção deve ser iniciado com a formação de uma comissão voluntária de professores, coordenadores, alunos e funcionários para que sejam discutidas medidas e alterações que podem ser realizadas no espaço escolar e, então, haja uma melhoria nos pontos negativos identificados.
Essa comissão deve ser, acima de tudo, democrática, ou seja, permitir que todos os envolvidos sejam livres no seu pensar e na expressão de suas ideias, sem que haja nenhum tipo de repressão, silenciamento ou insegurança ideológica ou operacional. Este deve ser caracterizado como um espaço de discussão e debate de ideias de melhoria para toda a escola e comunidade, culminando, assim, na formulação de projetos e propostas de intervenção que devem ser discutidas e testadas.
Após a implementação das mesmas, é importante que sejam submetidas a testes que busquem identificar a sua real aplicabilidade e desempenho no espaço escolar, a fim de possuir resultados suficientes para a identificação de sua eficácia na construção e/ou manutenção do clima organizacional emocionalmente saudável aos professores e demais envolvidos, para assim diagnosticar se as propostas continuam ou precisam ser alteradas ou até mesmo anuladas.
É necessário, portanto, que entre as funções do gestor educacional, sejam contadas as tarefas de aferição e acompanhamento do clima organizacional, e também que pessoas da equipe de gestão recebam treinamento adequado em técnicas de mediação de conflitos.
Desta forma, objetivando a construção e manutenção de um clima organizacional saudável, todos os envolvidos deverão assumir a responsabilidade de zelar pelo convívio harmônico e respeitoso entre seus pares e demais grupos. Na prática, seria pedir aos professores, funcionários e gestores que exerçam aquilo que ensinam aos alunos, respeito às diferenças individuais, às opiniões divergentes e à habilidade de conviver em um ambiente multifacetário de forma ética, respeitosa e colaborativa.
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Mini currículo:
Antonio Pereira dos Santos
Doutorando em Psicologia pela Universidade Internacional Iberoamericana, UNINI, México. Mestre em Psicologia Clínica pela Universidad Europea del Atlántico (Espanha). Pós-graduado em Psicanálise Clínica pela FAB. Pós-graduado em Gestão Estratégica de Pessoas pela Faculdade Educacional da Lapa. Formado pelo Instituto da Psicanálise Lacaniana. Licenciado em História pela Universidade Bandeirantes de São Paulo.
E-mail: antonio@spab.org.br
ID Lattes: http://lattes.cnpq.br/7874942167055911
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